Cruzamos nossos olhares nesta rua
Onde somos, há muito, dois vizinhos,
Ainda que sem ouvir uma palavra tua
Nos tantos anos de comuns caminhos.
Nunca trocamos nenhum cumprimento
E nem nunca detivemos nosso passo.
Um pelo outro passamos, e o momento.
Perde-se, num segundo, pelo espaço.
Mas hoje, ao te olhar, senti bem perto.
Uma voz a me dizer: “fala com ela”,
E ao teu encontro atravessei a rua.
O que eu fiz não podia ser mais certo:
Da vida a só abriram-se as janelas
E a minha enorme solidão beijou a tua.
Amaury Nicolini
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